- Então, meu jovem, você sabe alguma coisa? - Eu? Sei remar, nadar e rezar.
- Mas você não sabe filosofia? - Nunca ouvi falar disso.
- Ah, meu amigo! Então você perdeu uma quarta parte da sua vida.
E continuou perguntando o sábio: - E você já estudou física? - Também não - respondeu rindo o humilde remador.
- Perdeu, pois, duas quartas partes da sua vida.
Insistindo novamente, o sábio fezlhe uma terceira pergunta: - Já aprendeu matemática? - Não.
- E astronomia? E gramática?...
Para todas essas perguntas tinha o pobre barqueiro sempre a mesma resposta: - Não! - Então, meu caro, você já perdeu três quartas partes de sua vida.
Navegavam assim, distraídos pela conversa, sem perceber que a barca avançava com rapidez na direção de um rochedo. Houve um choque violento, a barca rachou-se e começou a afundar. A margem do rio estava ainda bem distante... O barqueiro, sabendo nadar, lançou-se na água sem qualquer hesitação, lutou contra a tremenda correnteza e conseguiu chegar são e salvo ao outro lado do rio.
O mesmo, porém, não aconteceu com o sabichão. Aterrorizado, ele olhava ora para a água, ora para a margem, sem saber o que fazer para livrar-se daquela perigosa situação.
Então gritou-lhe o barqueiro, exausto, mas já bem seguro em terra firme:
- Senhor filósofo, sabe nadar?
- Não! - Então reze!
- Rezar? Rezar o quê? Eu não sei fazer isso!
- Ah, pobre infeliz, o senhor perderá uma vida inteira...
O homem, desesperado, afundava juntamente com a barca enquanto ouvia ao longe um último conselho do humilde e ignorante remador:
- Está vendo? Na hora do aperto de nada lhe serviram suas astronomias e filosofias!
Por isso não podemos nos achar os conhecedores de tudo e tão pouco sabedor de nada. Porque sempre temos as nossas habilidades. Nada resolverá se menosprezar alguém ou diminuir-se a si próprio. Valorize os outros. Honre. Valorize-se.