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terça-feira, 27 de julho de 2010

A relação Nick – identidade / A escolha do nome

A escolha do nome próprio não é uma escolha pessoal. Nosso nome nos é dado pelos nossos pais, em função de diversos motivos por eles atribuídos. Sonoridade, significado, beleza, a criança ter ‘cara’ do nome, também nos deparamos com expectativas e desejos inconscientes dos pais com relação aos filhos. (Berenguer, 1997)

O nosso nome fala da nossa identidade.

Para o autor Ciampa (1988), que trabalha com a questão de identidade, na Psicologia Social

...um nome nos identifica e nós com ele nos identificamos. Por isso dizemos ‘eu me amo’ (...) nós nos chamamos mas só depois de certa idade, pois inicialmente somos chamados por um nome que nos foi dado. Não escolhemos o nome que temos, e nem nosso sobrenome, que nos é dado pela família, o Nick, portanto, configura a possibilidade de próprio sujeito “nomear-se”. É o sujeito que vai inventar um nome, ou ‘acatar’ um apelido já existente, para si mesmo. É a possibilidade de escolha sobre como quer apresentar-se.



Algumas tribos de índios norte americanos não nomeiam a criança logo ao nascer. Eles esperam ate que a criança esteja um pouco mais crescida, escolhem seu nome e depois de observá-la por algum tempo, em função de uma característica sua. Isto é claro no filme ‘dança com lobos’, no qual o personagem principal recebe este nome dos índios porque brinca com um lobo.

Este costume indígena inspirou uma técnica utilizada em orientação vocacional, descrito em Lucciari (1992): pede-se aos adolescentes que escolham seu ‘nome de índio’, baseado em suas características pessoais.

O Nick pode ser considerado como um ‘nome de índio’ que a pessoa escolhe para si mesma. É por meio dele que se expressam suas características individuais e seu modo de ser.

Morgan (apud Bechar, 1995) acredita ter encontrado evidencias de que há uma crença generalizada de que o nome de um indivíduo apresenta sua essência, seja física ou mental.

Escolher um nome traz certas implicações. Para Berenguer (1997), o nome tem muitos atributos. Um deles é que, para algumas civilizações primitivas, o nome de uma pessoa tinha poderes especiais.

Para Estes (1999), saber o verdadeiro nome de uma pessoa representa conhecer a trajetória da vida e os atributos da alma daquela pessoa; e o motivo pelo qual o nome verdadeiro é muitas vezes mantido em segredo, está na projeção de seu dono, para que ele ou ela possa crescer e cumprir o potencial do nome, e na própria proteção do nome, de modo que ninguém o avilte ou prejudique. Será por isso a proibição do uso do verdadeiro nome no chat?



Jung (1973) diz que:

O ato de dar um nome, como o batismo é imensamente importante para a formação da personalidade, pois desde tempos remotos atribui-se um poder mágico ao nome. Saber o nome secreto de alguém significa ter poder sobre ele. (...) num mito egípcio, Ísis tira o poder do deus solar Rá ao obrigá-lo a revelar seu verdadeiro nome. Dar nome, significa portanto, dar poder, conferir uma determinada personalidade ou alma.



( nota de rodapé: o ato de dar nome transmite certas qualidades, senão a própria alma: daí o antigo hábito de dar nome de santos para crianças)



Talvez ao escolher um Nick, o sujeito esteja se rebatizando. Escolher um Nick, como escolher um nome confere uma personalidade ou uma alma à pessoa. Será que, ao escolher um Nick, o sujeito confere a si mesmo uma nova alma, propiciando assim a expressão de um personagem virtual?



Hillman(1977) cooca a questão do nome e do apelido de uma outra forma. Para ele, casa ser humano carrega em si um ‘gênio’ interno, pessoal, que ele Daimon. É uma vocação, algo que nos chama para vida. Nesse sentido, ele postula que cada pessoa tem um nome, dado pelos pais. Mas o apelido, é na verdade o nome do Daimon, anjo interno.

Para ele:

O apelido contem uma verdade interna que pode ficar para a vida e ser percebida antes que o gênio apareça em grande estilo. Os apelidos não são meros símbolos de afeição para humanizar deficiências. Esta interpretação impressionista (do próprio autor) gosta de entender o apelido como uma maneira de trazer a estrela para a dimensão humana, para que possamos nos relacionar com o gênio sem deixar assombrar demais por ele.

Para Hillman, o apelido de uma pessoa diz muito mais dela do que se próprio nome. O Nick expressa, portanto, muito mais do que ela pode imaginar. Ele diz uma verdade interna.