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quinta-feira, 11 de julho de 2013

Quando peço que me escute...

texto belíssimo do Jacques Salomé. Psicólogo e sociólogo francês, considerado o “escritor da ternura”, ele descreve com sabedoria o pedido da nossa alma. Fiz uma tentativa de traduzir o texto para o português, mas não tenho certeza de que consegui chegar a um consenso linguístico perfeito. De qualquer forma, é emocionante. Apreciem…


Quando peço que me escute e você começa a me dar conselhos, sinto que não sou escutado.

Quando peço que me escute e você me faz perguntas sobre o que eu deveria ou não sentir, me sinto agredido.

Quando peço que me escute e você apreende o que eu digo para tentar resolver o que você acredita ser meu problema, por mais estranho que possa parecer, me sinto ainda mais perdido.

Quando peço que me escute, peço para que você esteja lá, presente nesse instante tão frágil em que procuro a mim mesmo, numa palavra errada, às vezes, inquietante, injusta ou caótica.

Preciso dos seus ouvidos, da sua tolerância, da sua paciência para me dizer o que é difícil ou o que é mais tranqüilo.

Sim, simplesmente me escutar… sem acusação, sem desqualificação da minha palavra.

Escuta, escuta-me.

Tudo o que peço é que você me escute.

O mais próximo de mim.

Simplesmente acolha o que tento te dizer, o que tento dizer a mim mesmo.

Não me interrompa no meu murmurar; não tenha receio das minhas tentativas e erros.

Minhas contradições assim como minhas acusações, por mais injustas que pareçam, são importantes para mim.

Eu chego, dessa forma, a um discurso claro que, há tempo, me encontro desprovido.

Oh, não! Não preciso dos seus conselhos.

Posso agir sozinho e também me enganar.

Não sou impotente; às vezes necessitado, desencorajado, hesitante, nem sempre importante.

Se você quiser fazer no meu lugar, irá contribuir para o meu medo, para acentuar minha inadequação e, talvez, para reforçar minha dependência.

Quando eu me sinto escutado, eu posso enfim me ouvir.

Estabelecer as pontes, as passarelas incertas entre a minha história e as minhas estórias.

Religar os eventos, as situações, os encontros ou as emoções para fazer a trama das minhas interrogações.

Para tecer, dessa forma, a escuta da minha vida.

Sim, sua escuta é emocionante.

Por favor, escuta-me e ouça-me.

E se você, por sua vez, quiser falar, espera só um instante para que eu possa terminar e eu, por minha vez, te escutarei melhor, sobretudo se eu tiver me sentido entendido.

(Quand je te demande de m’écouter…, texto extraído de Parles-moi, j’ai des choses à te dire…)